O batismo
nas águas, a imersão, é a forma pela qual está expressa nas Escrituras
neotestamentárias, sendo praticada pelos batistas e outros ramos do
cristianismo, também pelos pentecostais e seus derivados. Do outro lado, boa
parte do protestantismo adota o modo da 'aspersão', isto é, aspergir ou
borrifar com água. Afirmam ainda haver 'embasamento' escriturístico quanto à
prática aspersionista. Isto é prova de que milhões de pessoas discordam entre
si quanto à forma do batismo nas águas se por aspersão ou, imersão.
O autor
deste artigo é imersionista e, como tal, tem dialogado com defensor
aspersionista assim como tem lido obras em defesa da aspersão. Neste estudo
apresento vários textos que um ferrenho aspersionista poderá utilizar contra a
imersão para 'provar' (?) a aspersão como uma suposta prática neotestamentária.
Nada melhor do que deixar a própria Bíblia responder por si mesma, livre de
argumentos filosóficos e malabarismos teológicos.
Será utilizado o grego do Novo Testamento, o Grego koiné, assim como o Hebraico do Antigo Testamento servindo este como transfundo semítico da ideia ou linha de pensamento dos escritores da Bíblia, afinal, eles eram judeus. O Tanakh - o Antigo Testamento - eram as Escrituras utilizadas pela Igreja nos primeiros anos de sua existência. Importante, então, é saber o significado de uma palavra grega e seu equivalente no hebraico, muito embora a língua aramaica esteja em uso nos dias de Jesus, esta não muda o significado dos termos aqui apresentados.
Será utilizado o grego do Novo Testamento, o Grego koiné, assim como o Hebraico do Antigo Testamento servindo este como transfundo semítico da ideia ou linha de pensamento dos escritores da Bíblia, afinal, eles eram judeus. O Tanakh - o Antigo Testamento - eram as Escrituras utilizadas pela Igreja nos primeiros anos de sua existência. Importante, então, é saber o significado de uma palavra grega e seu equivalente no hebraico, muito embora a língua aramaica esteja em uso nos dias de Jesus, esta não muda o significado dos termos aqui apresentados.
BATISMO:
ASPERSÃO OU IMERSÃO?
A palavra
"batismo" deriva do grego "baptisma" que
consiste nos processos de "imersão, submersão e emerção"
(derivado de baptõ, "imergir"). João é chamado de "o batista",
isto é, o batizador, por causa de sua relação em "imergir
ou mergulhar" as pessoas nas águas. O poeta christão Sedulius, um
romano, afirma que "batista é o que mergulha, immerge, o que baptiza;
por excellencia, S. João Baptista, precursor de J. Christo."
A palavra
"batismo" ocorre 20 vezes no Novo Testamento com mais duas
variantes textuais em Mateus 20.22,23.
A palavra
"aspersão" deriva do grego "rhantismós"
(aspersão) e ocorre 2 vezes nas Escrituras neotestamentárias, a saber, "Hebreus
12.24" e "I Pedro 1.2". O verbo "rhantizõ"
(aspergir) ocorre 5 vezes e é a forma mais recente de "rhainõ"
(aspergir). O vocábulo rhantizõ (aspergir) ocorre apenas em Mc
7.4; Hb 9.13,19,21; 10.22".
Os verbos
"baptõ" (batizar) e "rhantizõ" (aspergir) não
são sinônimos e possuem aplicações distintas. O vocábulo "batizar" (baptõ)
se refere a "mergulhar/molhar", onde o rico pede a Abraão que
Lázaro "molhe" (baptõ= imergir num fluído) a ponta
do dedo na água (Lc 16.24). É notável que em lugar algum do Novo Testamento se
usa "rhanstismós" (aspersão) ou "rhantizõ"
(aspergir) quando o caso é batizar ou imergir na água. O vocábulo
"batismo" como já foi dito NÃO DERIVA de 'rhantizõ'
(aspergir), mas de "baptõ" (imergir).
O vocábulo
hebraico para "imergir" é taba' (imergir,
afundar), diferentemente "aspergir" provém do hebraico "zarah" (aspergir, esparramar).
Tendo isto
em mente, passo agora aos questionamentos aspersionistas, assim
como as devidas respostas aqui elaboradas:
DA ÊNFASE
ERRADA SOBRE O BATISMO COM ÁGUA
1. Dizem que Jesus nunca pregou sobre o batismo com água muito menos
os apóstolos.
R. É verdade que o centro das pregações do Senhor Jesus e dos
apóstolos era o arrependimento do pecador pela exposição das Escrituras, isso
ocorre internamente em cada um de nós pela operação do Espírito Santo (João
16.8). Mas desde o príncípio de Seu ministério Jesus (ou os apóstolos) passou a
batizar e todos iam ao encontro dEle (João 3.26).
2. Alegam não haver menção de que os escritores do Novo Testamento -
com exceção de Paulo - tenham sidos batizados nas águas, pois a Bíblia silencia
sobre isso.
R. Tal silogismo é completamente infundado, pois está a equiparar o
ministério apostólico com a seita dos fariseus por ensinar e não praticar (Mt
23.3), taxando-os de hipócritas - ainda que indiretamente. Jesus ordenou aos
discípulos que ensinassem as nações, quem dentre elas crer, é ordenado que
seja batizado (Mc 16.16). Assim, tal silogismo contraria diametralmente o caráter dos
ensinos cristãos que é praticar o ensino que se prega.
O BATISMO
COM ÁGUA - SINAL DA REALIDADE ESPIRITUAL
3. Dizem que o batismo nas águas é um "tipo" do batismo
com o Espírito Santo.
R. De modo algum. O batismo nas águas é um tipo da morte,
sepultamento e ressurreição do Senhor Jesus e do convertido com Ele na sua
morte (Cl 2.12). Em lugar algum das Escrituras o batismo com o Espírito Santo
tipifica morte, sepultamento e ressurreição. O batismo do Espírito é distinto
daquele, sendo uma arfimativa de que o crente é envolvido para dentro do poder
do Espírito, um "revestimento" (Lc 24.49). No grego
neotestamentário "revestir" é o verbo "enduõ"
(ir sob, imergir-se), é descrito como que havendo "rios"
(gr. potamoi) de "água" (gr. hydatos) fluindo (João
7.38) do nosso interior. Para esse abastecimento de água em si mesmo, o cristão
precisa de "enduõ" (ir sob, imergir-se) no rio dos
rios, o "rio" de Deus (Apoc. 22.1). O cristão é,
verdadeiramente, imerso (batizado) no Espírito.
OS COSTUMES
JUDEUS
4. Alegam alguns aspersionistas que nas catacumbas de Roma há figuras
de 'batismo' (?) por aspersão em que água é derramada sobre a cabeça do
batizando.
R. Quanto a isso, o exegeta N. Lawrence Olson explica que "seria
muito difícil pintar uma pessoa mergulhada, e que por isso o artista escolheu a
atidude que mais lhe servia." Se quando ainda vivos os apóstolos
combatiam enxurradas de "heresias" (1 Cor 11.19) que brotavam nos meios
cristãos, o que dizer então depois da morte deles? Em razão disso, a forma da
aspersão não era universalmente aceita no período pós-apostólico, sendo
praticada apenas em casos excepcionais (batismo klinikoi = batismo na cama) e mesmo assim sempre encontrou
contestação. Entre os judeus, quando um gentio (um prosélito) se converte ao
judaísmo lhe é ministrado um "batismo" (imersão nas águas),
tal prática já existia no judaísmo desde tempos imemoriais, eis um comentário rabínico:
"Quando
uma pessoa se converte ao judaísmo, ela deve demonstrar através de atos
positivos, o seu desejo de mudar de religião. Para ambos os sexos, a imersão em
um banho ritual (micvá) tem sido uma exigência antiga. A Bíblia fala sobre a
imersão como uma ação necessária para restabelecer o estado de pureza de uma
pessoa. Muitos judeus ortodoxos visitam a micvá quando estão se preparando para
o shabat e os dias de festa." (Kolatch, Alfred J., Livro Judaico dos
Porquês, pág. 318, 3ª Edição, Editora e Livraria Sêfer, São Paulo, SP -
Brasil).
Também,
quando uma pessoa se converte a Cristo ela é imersa nas águas, a imersão já era
adotada pelos judeus e foi com a imersão que João batista apareceu batizando no
rio Jordão. A Igreja em seus primeiros anos era composta unicamente de judeus.
O QUE REQUERIA
A LEI JUDAICA
5. Alegam que a Lei requeria a circuncisão (Lv
12.3), mandamento que foi cumprido por Jesus aos oito dias de Seu nascimento.
Argumentam que um levita para ser consagrado ao sacerdócio se
dá apenas com trinta anos (Nm 4.47) sendo borrifado com água para
ser purificado (por ser impuro) e tomar um
novilho para oferta de seus pecados (Nm 8.8).
R. Os levitas (Jesus não era levita) para serem
consagrados ao ministério a Lei determinava os seguintes atos: "borrifa
de água, passar navalha sobre sua carne e lavar as vestes" (Nm 8. 7)
para se PURIFICAREM. Jesus não era levita muito menos pecador, em razão disso
não foi preciso cumprir nenhum desses requisitos de "purificação"
(borrifa de água, passar navalha sobre a carne e lavar as vestes), pois seria o mesmo que assinar Seu atestado de impureza, maculado
pelo pecado. Um levita deveria ainda tomar um novilho com a sua
oblação de flor de farinha de trigo amassada com azeite, e mais outro novilho,
por oferta do pecado (Nm 8.8). Jesus, por não ser levita muito menos
"pecador ou impuro", não precisou ser borrifado com água e
cumprir todas as exigências da Lei. O Sacerdócio do Filho de Deus era
completamente distinto daquele. João Batista sabia que "o cordeiro de
Deus" era sem mancha e, por isso, não precisava ser borrifado para
se purificar, muito menos aparecer com novilho por oferta dos pecados conforme
a Lei do levirato. Essa era a Lei que estabelecia o sacerdócio pela linhagem da
tribo de Leví, mas que não se destinava a Jesus por ser da tribo de Judá.
O Seu "batismo"
(imersão) no rio Jordão era o início de uma nova era, o cumprimento de "toda
a justiça" (Mt 3.15) que não pôde ser cumprida pela Torah (Lei), mas pela graça do Filho de Deus e Jesus
mostrou isso pela imersão nas águas (mergulhando e ressurgindo) o que denotava o dramático
acontecimento de Sua "morte, sepultamento e ressurreição" (Cl 2.12) morrendo em nosso lugar cumprindo assim a exigência da justiça divina. Jesus é o nosso
"cordeiro" substituto.
NAAMÃ E SEU
MERGULHO NO JORDÃO
6. Advogam alguns aspersionistas que Naamã desobedeceu a ordem de
Eliseu (II Reis 5.10) por ter mergulhado ou imergido (II Reis 5.14) no Jordão.
R. Não é isso que vemos em II Reis 5.14, pois o texto afirma o
contrário:
"Então
desceu, e mergulhou (gr. bapto) no Jordão sete vezes, conforme a palavra do
homem de Deus" (...).
Então, Naamã
entendeu que o "lavar-se" era por meio do mergulho, o qual é
confirmado pelo texto, pois o ato foi "conforme a palavra do homem de
Deus", isto é, conforme a intenção do profeta.
A palavra
grega bapto (mergulhar) possui o seu equivalente
hebraico taba' (afundar):
"Jogou
no mar os carros do Faraó e seu exército, e os escolhidos de seus valentes foram submersos (gr.
bapto; hebr. taba') no mar Vermelho." (Êxodo 15.4).
O vocábulo
grego e seu equivalente hebraico (gr. bapto; hebr. taba') também fala de os pés
estarem afundados:
(...) "Teus
pés afundam (hebr. taba'; gr. baptõ) na lama e
eles se retiram." (Jeremias 38.22).
Como se pode ver, o vocábulo grego
"bapto" de onde deriva o termo batismo, se refere a estar dentro e
debaixo; mergulhar, afundar.
BATISMO NO MAR E NA NUVEM
7. Questionam o fato de Deus ter
batizado Seu povo "no mar e na nuvem", conforme relato de
Paulo em 1Coríntios 10.2. Afinal, dizem, se "bapto" significa imergir,
afundar, o povo foi imergido no mar?
R. O argumento aspersionista é capcioso. Mas, a ideia do termo "batismo" requer
que o batizando esteja no "interior" da água, o que vem a denotar
estar " entre, debaixo d'água e ressurgir dela". O
batismo cristão é símbolo de "morte, sepultamento e ressurreição"
(Cl 2.12). No mar os judeus estavam em lugar fundo e rodeados por
gigantescas muralhas de águas, por cima havia tão grande e
colossal nuvem que os encobriam completamente. Eles estavam no interior das
águas, tal como o sepucro de Jesus na rocha escavada. O sepulcro de Jesus era
uma caverna em que se podia entrar e caminhar dentro da rocha, assim era a cova
(Gn 23.19) que Abraão comprou para sepulcro de Sara, em cuja cova também foi
ele sepultado (Gn 25.10).
Para "cova" (caverna),
o vocábulo hebraico é me'areh (cova, caverna, covacho,
gruta, antro, refúgio). No mar, Deus proveu uma cova ou gruta de águas para
refúgio e salvação de Seu povo; nós os cristãos fomos pelo batismo mortos com Cristo e sepultados com Ele em Sua "cova, caverna, sepultura" (Mt 27.60; Cl
2.12) e ao sair de dentro dela também tomamos parte em Sua ressurreição. No mar e na
nuvem, os judeus estavam numa cova ou caverna de águas feita pelo Eterno,
enaltecido seja Ele. A 'aspersão' (?) de modo algum denota ou
transmite a ideia de estar dentro duma cova ou caverna formada
por águas; a imersão é o mais puro e real sentido
de se estar no interior e coberto pela água. Batizados
no mar e na nuvem, significa que os judeus deveriam considerar-se mortos e
sepultados quanto à forma de escravidão e vaidades (idolatria) aprendidas no
Egito para entregar-se ao único e Soberano Deus. Eles foram batizados no mar,
mas saíram do interior das águas para um novo horizonte que Deus lhes abria.
FALTA DE RIO E AUSÊNCIA DA MENÇÃO DE
MUITAS ÁGUAS
8. É comum os aspersionistas
argumentarem que em Jerusalém não havia rio para os apóstolos batizarem quase
três mil pessoas (Atos 2.41), e que as Escrituras não dizem em que lugar de
Damasco Paulo foi batizado (Atos 9.18), há o caso de Filipe e o eunuco (Atos
8.36), etc.
R. Estas são as passagens prediletas
dos aspersionistas que costumam invocar contra a imersão. Embora não haja rio na
cidade de Jerusalém, a mesma era abastecida por vários aquedutos,
água era o que não faltava em Jerusalém, além de que havia adicionalmente
muitos "tanques" (hebr. micvá) ao pé do
monte do Templo para imersão dos judeus nos dias das grandes festas judaicas, foi
nesse período de festa que cerca de três mil judeus foram batizados. Nota-se
que os judeus fazem menção desses grandes abastecimentos de águas em Jerusalém:
"A Bíblia
fala sobre a imersão como uma ação necessária para restabelecer o estado de
pureza de uma pessoa. Muitos judeus ortodoxos visitam a micvá quando estão se
preparando para o shabat e os dias de festa."
(Kolatch, Alfred J., Livro Judaico dos Porquês, pág. 318, 3ª Edição, Editora e
Livraria Sêfer, São Paulo, SP - Brasil).
Quanto à conversão e batismo de Paulo
em Damasco, é necessário esclarecer que a cidade é banhada por dois rios, um
deles se divide em sete braços como em forma de leque. Água também não era
problema, em um desses rios foi o apóstolo batizado. Aliás, é contraditório os
aspersionistas dizerem "imergir/afundar" (batizar) por "aspergir"
(chuviscar).
Quanto ao diácono Filipe ter batizado o
eunuco, embora tal passagem não conste em certos manuscritos se faz presente em outros; o modo foi por imersão. O eunuco avistou água suficiente em que pudesse
ser imergido:
"E, indo eles caminhando,
chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que
eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E,
respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar
o carro e desceram ambos à água, tanto Filipe quanto o eunuco, e o batizou."
(Atos 8.36, 37, 38).
Ora, por certo o viajante eunuco levava
água de reserva em odres para beber pelo caminho, bastava ele pedir para Filipe
pegar um odre de água e derramar um pouco sobre sua cabeça e já estaria 'aspergido' (batizado?)!
Por que não o fez? - Porque sabia que um prosélito é imergido:
"Quando
uma pessoa se converte ao judaísmo, ela deve demonstrar através de atos
positivos, o seu desejo de mudar de religião. Para ambos os sexos, a imersão em
um banho ritual (micvá) tem sido uma exigência antiga." (Kolatch,
Alfred J., Livro Judaico dos Porquês, pág. 318, 3ª Edição, Editora e Livraria
Sêfer, São Paulo, SP - Brasil).
Ele era um prosélito do judaísmo, pois
estava voltando da "adoração" em Jerusalém e sabia que estava
aderindo e se tornando membro do Corpo dos que creem que Jesus é o Filho de Deus. A forma de exteriorizar sua crença era a tão conhecida pelos prosélitos, a imersão,
tal qual havia feito anteriormente quando se convertera ao judaísmo.
O vocábulo
hebraico para "imergir" é taba' (imergir,
afundar), diferentemente, o termo "aspergir" corresponde
ao termo hebraico "zarah" (aspergir, esparramar).