Esta é, sem sombra de dúvida,
uma das questões menos conhecida por muitos, sendo traduzida em nossas
Bíblias como “seol”, erroneamente
por “sepultura”
e “inferno” (lat. infernus), sendo
traduzido também por “morte”. Nas
Escrituras do Novo Testamento, hades
ocorre dez vezes, a saber: MT 11.23;
16.18; Lc 10.15; 16.23; At 2.27, 31; I Cor 15.55; AP 1.18; 6.8; 20.13, 14. Em
1 Cor 15.55, trata-se de uma variante textual.
É necessário fazermos distinção entre seol (she’ol) e sepultura. Para sepultura, as Escrituras hebraicas
possuem um termo específico que é qeber
e não she’ol. Nas Escrituras Gregas o
equivalente para she’ol é hades, e, assim como acontece no
hebraico também acontece no grego bíblico. Nas escrituras gregas a palavra
específica para sepultura não é hades,
mas taphe.
Ainda, há outro termo que especifica uma “tumba
ou sepulcro”, mas apenas no
sentido de “tumba monumental” cuja
palavra é “mnêma” (monumento
sepulcral). Foi um mnêma que José de Arimatéia fez para si, mas cedeu para
sepultar o corpo de Jesus (Mc 15.46).
Portanto, uma vez esclarecido, sabe-se que she’ol
não é sinônimo de “qeber” (sepultura) da
mesma forma que hades não o é de taphe
(sepultura).
Um corpo jamais é depositado no hades ou she’ol, mas no taphe ou qeber. Os homens podem cavar
e apalpar qeber ou taphe, mas
nunca cavam ou apalpam o she’ol ou hades. Enquanto o corpo é depositado na
“sepultura” (qeber/taphe), a alma
desencarnada destina-se à região inferior e invisível, ao hades ou she’ol.
Taphe
(sepultura) é um substantivo derivado do verbo “tháptõ” (sepultar), o que
indica o ato de sepultar numa fossa ou
habitação subterrânea. Notemos ainda, que taphe também significa “cemitério”, isto é, campo destinado para
sepultamento de cadáveres:
”E, tendo deliberado, compraram com elas
o campo do oleiro, para cemitério (taphe)
de forasteiros.” (MT 27.7). – O
negrito é meu.
O rico e Lázaro, ambos morreram e tiveram seus corpos sepultados (taphe), mas a alma desencarnada de lázaro foi levada
pelos anjos ao seio de Abraão, ao passo que o rico foi parar no hades (Lc
16.22, 23). O she’ol ou hades é algo real, e a Escritura o
apresenta como sendo um “lugar” (Lc
16.28). O corpo do rei Davi foi sepultado
(taphe) e sua tumba monumental (mnêma)
ainda existia no tempo dos apóstolos (At 2.29). O corpo do Senhor também foi sepultado (taphe) numa tumba monumental (mnêma), mas sua alma
desencarnada esteve no hades (At
2.31) não sendo abandonada nesse lugar, ressuscitando dentre os mortos.
Como se pode constatar pelas Escrituras, o she’ol
ou hades não é destinado a
sepultamento de cadáveres, mas das almas desencarnadas. Para se chegar ao hades
ou she’ol
implica um “descer”:
”Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura,
até ao céu? Descerás até ao inferno (hades); porque, se em Sodoma se tivessem operado
os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje.”
(MT 11.23). O negrito é meu.
A única ocorrência nas Escrituras onde corpos desceram ao she’ol ou hades, se deu
por castigo de Deus, pois fez que rebeldes descessem vivos ao she’ol. Somente
Deus pode lançar tanto o corpo quanto
a alma no she’ol, ninguém mais:
”E aconteceu que, acabando ele de falar
todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou
com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os
seus bens. Eles e todos os que lhe pertenciam desceram vivos ao abismo (she’ol); a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação.” ( Nm
16.31, 32, 33). - O negrito é meu.
Fica evidente, assim, que she’ol ou hades é distinto de sepultura (taphe) comum dos corpos sem
vida, não sendo palpável ou aberto pelos homens. Somente Jesus tem
as chaves do hades, sendo esta a habitação dos perdidos, mas que inclui também
a habitação dos santos precedentes a
ascensão do Senhor. É sabido, porém, que
as almas do povo de Deus nesse lugar assim como suas condições estavam sob
constante vigilância do Senhor, e que na antiguidade os judeus faziam distinção
em dois paraísos:
”Os judeus faziam distinção entre paraíso superior e paraíso inferior, o
primeiro era uma parte do céu e o segundo uma divisão do Hades destinado às
almas dos justos.” (D. Davis, Jonh. Dicionário da Bíblia, JUERP, 12ª Edição).
Assim, pode-se compreender perfeitamente a menção feita por Cristo sobre o rico
e Lázaro, o rico estava no hades; Lázaro no paraíso, isto é, uma divisão do hades que Jesus chamou de “seio de Abraão”.
Romário N. Cardoso