segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SHE'OL OU HADES - MORADA DAS ALMAS DESENCARNADAS


Esta é, sem sombra de dúvida, uma das questões menos conhecida por muitos, sendo traduzida em nossas Bíblias como “seol”, erroneamente por “sepultura” e “inferno” (lat. infernus), sendo traduzido também por “morte”. Nas Escrituras do Novo Testamento, hades ocorre dez vezes, a saber: MT 11.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; At 2.27, 31; I Cor 15.55; AP 1.18; 6.8; 20.13, 14. Em 1 Cor 15.55, trata-se de uma variante textual.

É necessário fazermos distinção entre seol (she’ol) e sepultura. Para sepultura, as Escrituras hebraicas possuem um termo específico que é qeber e não she’ol. Nas Escrituras Gregas o equivalente para she’ol é hades, e, assim como acontece no hebraico também acontece no grego bíblico. Nas escrituras gregas a palavra específica para sepultura não é hades, mas taphe. Ainda, há outro termo que especifica uma “tumba ou sepulcro”, mas apenas no sentido de “tumba monumental” cuja palavra é “mnêma” (monumento sepulcral). Foi um mnêma que José de Arimatéia fez para si, mas cedeu para sepultar o corpo de Jesus (Mc 15.46).

Portanto, uma vez esclarecido, sabe-se que she’ol não é sinônimo de “qeber (sepultura) da mesma forma que hades não o é de taphe (sepultura).

Um corpo jamais é depositado no hades ou she’ol, mas no taphe ou qeber. Os homens podem cavar e apalpar qeber ou taphe, mas nunca cavam ou apalpam o she’ol ou hades. Enquanto o corpo é depositado na “sepultura” (qeber/taphe), a alma desencarnada destina-se à região inferior e invisível, ao hades ou she’ol.

Taphe (sepultura) é um substantivo derivado do verbo “tháptõ” (sepultar), o que indica o ato de sepultar numa fossa ou habitação subterrânea. Notemos ainda, que taphe também significa “cemitério”, isto é, campo destinado para sepultamento de cadáveres:

E, tendo deliberado, compraram com elas o campo do oleiro, para cemitério (taphe) de forasteiros.” (MT 27.7). – O negrito é meu.

O rico e Lázaro, ambos morreram e tiveram seus corpos sepultados (taphe), mas a alma desencarnada de lázaro foi levada pelos anjos ao seio de Abraão, ao passo que o rico foi parar no hades (Lc 16.22, 23). O she’ol ou hades é algo real, e a Escritura o apresenta como sendo um “lugar” (Lc 16.28). O corpo do rei Davi foi sepultado (taphe) e sua tumba monumental (mnêma) ainda existia no tempo dos apóstolos (At 2.29). O corpo do Senhor também foi sepultado (taphe) numa tumba monumental (mnêma), mas sua alma desencarnada esteve no hades (At 2.31) não sendo abandonada nesse lugar, ressuscitando dentre os mortos.

Como se pode constatar pelas Escrituras, o she’ol ou hades não é destinado a sepultamento de cadáveres, mas das almas desencarnadas. Para se chegar ao hades ou she’ol implica um “descer”:

Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno (hades); porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje.” (MT 11.23). O negrito é meu.

A única ocorrência nas Escrituras onde corpos desceram ao she’ol ou hades, se deu por castigo de Deus, pois fez que rebeldes descessem vivos ao she’ol. Somente Deus pode lançar tanto o corpo quanto a alma no she’ol, ninguém mais:

E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os seus bens. Eles e todos os que lhe pertenciam desceram vivos ao abismo (she’ol); a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação.” ( Nm 16.31, 32, 33). - O negrito é meu.

Fica evidente, assim, que she’ol ou hades é distinto de sepultura (taphe) comum dos corpos sem vida, não sendo palpável ou aberto pelos homens. Somente Jesus tem as chaves do hades, sendo esta a habitação dos perdidos, mas que inclui também a habitação dos santos precedentes a ascensão do Senhor.  É sabido, porém, que as almas do povo de Deus nesse lugar assim como suas condições estavam sob constante vigilância do Senhor, e que na antiguidade os judeus faziam distinção em dois paraísos:

Os judeus faziam distinção entre paraíso superior e paraíso inferior, o primeiro era uma parte do céu e o segundo uma divisão do Hades destinado às almas dos justos.” (D. Davis, Jonh. Dicionário da Bíblia, JUERP, 12ª Edição).

Assim, pode-se compreender perfeitamente a menção feita por Cristo sobre o rico e Lázaro, o rico estava no hades; Lázaro no paraíso, isto é, uma divisão do hades que Jesus chamou de “seio de Abraão”.

Romário N. Cardoso